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Não é estranheza, é sanidade mental

por cem-noites, em 10.09.15

No outro dia, enquanto tive de ficar em Lisboa a fazer tempo até à segunda aula de condução resolvi meter-me no metro e fui passear. Tinha cerca de duas horas por minha conta. Antes da primeira aula tinha passado pela faculdade para matar saudades de alguns amigos e o inicialmente suposto era voltar para lá... mas não me apeteceu. Apetecia-me um café com natas. Pesquisei vários sítios e vi o que era que tinha as melhores ofertas. Meti-me  no metro e lá fui eu. Nunca tinha saído naquela estação e gostei. Assim que desci as escadas que dariam ao metro li uma das minhas frases favoritas de Almada Negreiros - "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade." - A tarde estava a correr bem. Entrei num café com um ar clássico. Despertou-me a atenção a decoração minimalista e clássica e bingo!, tinha música Jazz a condizer. O café com natas estava delicioso. Meia dúzia de pessoas aproveitavam todo aquele ambiente envolvente para trabalhar. A tarde estava mesmo a correr bem! Recebo a primeira chamada de alguém que estava na faculdade e se lembrou de mim. Ignoro e sinto-me culpada. Eu sei que não devia, estava a gostar demasiado daquela tarde. Começo a ficar apertada de tempo. Afinal as duas horas passaram a correr. Ainda entro na porta ao lado: postais! Impossível não parar. Um marcador. Dois dedos de conversa com a senhora simpática. Apanhar o metro de regresso. Fiquei de passar na faculdade mas já não há tempo. Mais tarde, ao fim de mais um dia de trabalho, ele pergunta-me como correu a aula e o que fiz durante a tarde no tempo livre. Descrevo-lhe a minha tarde. 'Porque não foste com uma amiga ao invés de teres ido sozinha? Sempre tinhas companhia, pequenina.' Na voz tinha a estranheza de lhe ter falado com tanto entusiasmo de uma tarde que adorei mas que passei sozinha. Acho que a preciosidade está precisamente aí. Ler as frases escritas do outro lado da linha, ver meia dúzia de pessoas a trabalhar, observar o casal estrangeiro que acaba de chegar a Portugal, deliciar-me com o café com natas, dar indicações aos espanhóis, escolher postais bonitos e dar dois dedos de conversa com a senhora da loja. Há momentos que indiscutivelmente são nossos. E o que me causa estranheza é exactamente o contrário, isto é, as pessoas que não precisão desse tempo. São os momentos mais preciosos que tenho. E são fundamentais para encontrar a minha sanidade mental, para a minha tranquilidade. Oh! O quanto eu gostei daquela tarde...

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publicado às 23:35


1 comentário

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De As palavras que o vento não levou a 11.09.2015 às 13:03

É tão bom quando tomamos um café com a nossa própria alma. Eu sou como tu, gosto de estar sozinha. Também faz parte de viver. Estarmos bem, quando estamos só nós, mas estarmos também bem, quando há mais gente.

Gostei da tua tarde :)

beijinho

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