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O cancro

por cem-noites, em 30.07.14

O cancro, de entre todas as doenças que existem, está certamente no top 5 dos piores diagnósticos de doença que pode haver. Uma pessoa houve crancro de... e já não pensa em mais nada. Pensa só 'que grande merda!' Porque nunca dá bom resultado. Ou mata, ou faz sofrer horrores. Ou pior ainda, faz sofrer horrores e depois mata. O cancro sempre foi um bicho papão que perseguiu a minha família. Corria o ano de 1994, quando eu ainda não era nascida quando a minha avó paterna acaba por falecer novíssima devido ao diagnóstico de um cancro da mama em estado avançado. Em 2013 o pesadelo voltou e ainda hoje perdura. Foi detectado desta vez à minha avó materna um cancro grave. Irreversível. Fez em maio deste ano um ano que andamos nesta luta. Uma luta que temos vivido a três. A minha avó, a minha mãe e eu, com a ajuda do resto da família. Felizmente e apesar de irreversível foi detectado a tempo de forma a que se conseguissem fazer tratamentos para que houvesse uma estabilização da doença e assim foi. Durante um ano, com momentos bons e outros menos bons, tudo correu pelo melhor. Até julho deste ano. Houve um primeiro internamento de quinze dias porque houve uma regressão e a doença tomou uma brutalidade enorme. É triste. É sufocante. É um não-poder-fazer-nada horrível. Toda a envolvência é horrível. 

Ás vezes ponho-me a pensar, principalmente quando oiço o meu pai falar, da pena que tenho em não ter conhecido a minha avó paterna. Principalmente porque acho que pelo o que contam, em certas coisas sou muito parecida com ela. Ás vezes até falo com ela, como se ela me ouvisse. Porém e por muito que seja cruel dizer isto, é uma dor que não sinto. Uma dor que não sinto porque não houve apego. Eu não tenho memórias daquela mulher, que pelas fotografias é, sem dúvida, linda. Mas eu não tenho mais nada sem ser isso, fotografias. Não há memórias nítidas, não há lembrança de um toque ou de um cheiro. Não há nada disso. A minha avó materna criou-me. Os meus primeiros anos de vida, antes do infantário foi com ela que os passei enquanto os meus pais trabalhavam. E é disso que tenho medo. Porque por muito que digam que sim, nunca mas nunca se está preparado para a morte. Nunca. E eu só tenho medo que um dia a tragédia se afunile e chegue ao fim. Porque nesse dia vai cair a ficha. Nesse dia vou perceber que o bicho sempre lá esteve. Que a minha querida avó esteve a sofrer este tempo todo. Eu não sei o que vou sentir e tenho um medo tremendo que esse dia chegue.

Deus devia conceder-nos o desejo de deixar que algumas pessoas fossem eternas.

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publicado às 00:55


4 comentários

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De liz collingwood a 30.07.2014 às 11:32

eu adorava ter conhecido os meus avós maternos, mas já eram tão velhinhos, nem a irmã chegou a conhecer porque era bebé. em contrapartida, conheci os meus avós paternos, só aos 10/12 anos, mas confesso que para mim são apenas avós, pais do meu pai, duas pessoas que dão prendas no natal. não sinto aquele carinho por eles, como a minha sobrinha de certeza terá com os meus pais e com pais do meu cunhado.

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